Gosto do assim. Soa quase como uma palavra mágica, de tão breve, tão cheia de possibilidades. É que realmente cabe lá tudo: desde o que não sabemos até ao que não queremos dizer. Dizemos “assim”, e está tudo dito. E entendido. Muito útil o assim, portanto.
Há quem recorra ao Assim logo de entrada, com um “É Assim:”peremptório, acolitado dos dois pontos de introito como uma garantia de objetividade, de fidelidade ao sucedido. “É assim:” – dizem. E tudo o que se segue desde logo é dado por certo e fidedigno.
E pode também ser usado no fim, um “E é assim” que encerra terminante e quase notarial, o que para sempre ficará como registo da pura e dura verdade dos factos.
E o efeito sucedâneo do Assim? Isso nem se fala! Só para dar um exemplo: nos tempos em que havia palavras que as senhoras não podiam (ou não deviam) dizer, o Assim era a salvação do enrascanço. Eram tempos em que as amáveis trocas de monólogos com cavalheiros amáveis, de nomes tão confiáveis como Alexandre, ou O’Neill, por exemplo, eram discretamente expurgadas de tais palavras interditas; idos tempos em que os sonhos das mais discretas senhoras podiam surgir mobilados de coisas tão remotas como zeppelins ou charutos ou outras coisas igualmente estranhas, como aqueles antigos relógios de sala de onde ao bater das horas podia emergir tudo o que há de mais inesperado. E se ao contar o sonho que tivera, uma senhora tropeçava numa qualquer palavra dessas que as convenções lhe vedavam, lá vinha o Assim em socorro da pobre senhora, a salvá-la do embaraço, sem palavras para descrever o que vira, o que o sonho lhe pusera à mostra: “Era uma coisas em forma de… Assim”. E ficava dito. E entendido pelo cavalheiro. Que já podia então amavelmente fazer-se desentendido.
Tal é o poder do Assim – enorme como se vê. Por isso mesmo, há que usá-lo com parcimónia. Em doses exageradas pode facilmente transformar-se num assim-assim. E já não é a mesma coisa…