Foram já muitas as vezes em que a questão de Israel e da Palestina veio dar aqui a estes meus desabafos. Nestes últimos dias sobretudo tenho-me lembrado muitas vezes de um amigo israelita (a viver em Israel) e no que ele me disse uma vez que esteve em minha casa: que «tudo isto é uma perda de tempo e de vidas» [https://ze-lima.blog/2024/01/25/com-os-olhos-em-gaza/ ] Dei por mim agora a perguntar-me se por acaso tudo o que tem sucedido ultimamente em Israel e em Gaza lhe terá trazido algum consolo e alguma esperança. Tudo tem por trás a mão de Trump e o seu mais que suspeito pacifismo de última hora e são poucos os que acreditam que ele se mantenha em campo depois de ter marcado o penálti. E por isso alguém que costuma ler estas linhas também a mim me pôs a mesma pergunta, a querer saber se fiquei satisfeito com as notícias, se confio no que ele armou (ou desarmou…).
Nem que fosse o diabo!, foi o que eu respondi. Se com isso se põe termo ao sofrimento dos reféns sujeitos ao ódio fanático do Hamas, se com isso diminui o sofrimento de milhares e milhares de palestinianos vítimas de uma retaliação implacável por crimes que em nome deles foram cometidos e de que estão inocentes, que me importa a mim que se fique a dever aos cálculos, às maquinações ou às chantagens de que se serve Trump e o império americano? Fosse ele o diabo!
Mesmo se Israel continua a poder prolongar a ocupação de Gaza, a poder impor a fome como arma de controlo das populações, a poder decidir os movimentos e o futuro dos palestinianos em Gaza e no resto dos territórios ocupados, mesmo assim, todos respiraram aliviados. Muitos de nós, longe da vista, darão o caso por encerrado (eles agora que se amanhem) e talvez outros tantos se preparem para não pensar mais no assunto. Por mais que se saiba que nem Trump nem, muito menos, Netanyahu aceitam sequer a ideia do direito à autodeterminação dos palestinianos. E que do muito que se disse ficou muito mais por dizer. E por saber.
E são muitas as perguntas.
O Hamas libertou os reféns iaraelitas ainda vivos, mas não os corpos dos que entretanto foram mortos. Não sabemos como morreram – o Hamas atribui a culpa aos bombardeamentos indiscriminados de Israel. E diz que alguns estão ainda enterrados nos escombros, lavando-se as mãos do crime.
Israel libertou à volta de dois mil palestinianos presos, muitos deles sem nunca terem sido acusados de coisa nenhuma. A não ser a de viverem em Gaza. Será que ao ler isto alguém se pergunta como é possível haver duas mil pessoas presas, sujeitas a todo o tipo de violência, sem nenhum controlo de quem quer que seja, como simples peças de troca, também eles reféns sem direitos nenhuns?
Como saber se Israel vai respeitar os compromissos assumidos? Nunca aceitou outros antes. Nunca aceitou nem uma das mais de cem resolução da ONU, porque haveria agora de o fazer?
Não há nenhum plano para o estabelecimento de um Estado palestiniano, que muitos dizem ser a única solução possível para o conflito. Há países que reconheceram oficialmente um Estado palestiniano que apenas existe no papel. Onde estavam esses países quando este «acordo de paz» foi negociado?
A América (ou antes a «Magalândia») de Trump conseguiu impô-lo porque só ela detém os instrumentos capazes de fazer parar a guerra: as armas e o dinheiro. Netanyahu aceitou as condições apertado pela pressão interna, pelos que exigiam o regresso dos reféns, por alguns militares que começam a pôr em causa os fins e os meios, e pelas pressões internacionais. O Hamas aceitou (de má vontade) as condições, pressionado pelos países árabes que lhe fornecem as armas e os meios, porque se viu sem saída na frente armada e porque se vê cada vez mais contestado pela própria população de Gaza.
E Trump pode sonhar já com um imenso império imobiliário gerido por si e pela sua família, capaz de transformar Gaza no paraíso balnear idealizado por ele e pelo genro Kushner Ficou estabelecido que o plano de reconstrução de Gaza será orientado por um conselho onde terá assento privilegiado Tony Blair (talvez devido à sua prestação na guerra do Iraque) e será presidido pessoalmente pelo próprio Trump – uma jogada do género em que ele é mestre.
A «reconstrução» promete: O genro de Trump já se posicionou (e já há muito tempo! Veja-se o que aqui ficou registado há algum tempo. Vão ver se tiverem uns minutos: https://ze-lima.blog/2024/11/15/israel-meu-remorso/ ), o Qatar já percebeu que as oportunidades de negócios e o Boeing 747 que ofereceu a Trump podem afinal valer dividendos ainda mais chorudos. E depois também é verdade… o mais difícil está feito: a demolição prévia está praticamente concluída. Se é questionável que o Exército de Israel seja «o exército mais moral do mundo», como publicamente se apresenta, ele é inquestionavelmente um Exército extremamente eficaz: Gaza está literalmente arrasada, como se vê pelas fotografias que nos vão chegando rompendo todos os bloqueios, apesar de Israel ter começado por se ver livre dos jornalistas e correspondentes internacionais, o que só por si já diz muito das intenções da invasão e da ocupação. Um Exército implacável também: essa destruição deliberada e sistemática apresenta-se como justificada pela necessidade de eliminar os apoios e esconderijos do Hamas. O que não explica é a destruição orientada de escolas, de hospitais, de serviços de apoio social, das instalações de organizações humanitárias. E o que não poderá nunca justificar-se é a destruição deliberada de cerca de oitenta por cento das terras cultiváveis. Gaza ficará dependente da ajuda alimentar durante muitos e muitos anos.
E ainda haverá palestinianos que possam cultivar essas terras se elas puderem alguma vez ser recuperadas? Não sei. Numa sondagem recente feita em Israel, 82 por cento dos inquiridos estavam prontos a aceitar a limpeza étnica de Gaza. E 56 por cento aceitariam o mesmo em relação aos palestinianos que são cidadãos israelitas!
E quem o poderá impedir? Duvido que a indignação internacional só por si o consiga. A únioca coisda qwu talvez o conseguisse seriam sanções económicas nos setores onde elas doem mais. Mas os Governos e os Estados tem razões que o coração desconhece. E as razões do poder e do dinheiro da América podem sobrepôr-se a muita coisa. Já vimos noutros casos que nenhum travão a detém. O desprezo, as humilhações, a prepotência com que Trump trata a Europa e os países que não se vergam à Sua vontade e interesses imperiais são a marca de um poder sem freios.
Mas mesmo assim…
Quem dirá não ao diabo se por uma vez ele escrever direito por linhas tortas?
Trump parece levar a sério a tarefa de preencher as condições para a atribuição de um prémio que continua a escapar-lhe, depois de ter sido atribuído a outros americanos que ele deve considerar abaixo da Sua dignidade, como Martin Luther King (um ativista pelos direitos cívicos dos negros americanos) e Cordel Hull (um dos fundadores da ONU), porque está a pensar é nos Presidentes americanos que o receberam (Roosevelt, W. Wilson, Carter, Obama, Obama, Obama!). Nunca mostrou grande vocação para salva-vidas, mas se «salvar vidas» é uma das condições…
Ainda há pouco apresentou um extraordinário plano que, a ser posto em prática, poderá salvar muitas vidas em todo o mundo. Numa reunião da elite militar, convocada de todos os cantos do planeta onde a América tem bases militares pelo ministro da defesa (que Ele agora quer que seja “da Guerra”), e em que Trump fez questão em estar também presente, foram apresentados dois projetos decisivos para preparar as tropas para a difícil tarefa de defender a América (o que na gíria local quer dizer, «o mundo») – o Ministro apresentou (e determinou) o seu plano de proibir as barbas, os cortes de cabelo fora do comum, e as grandes barrigas dos militares. Mas Trump foi mais longe! Expôs um plano definitivo de acabar com um dos maiores flagelos mundiais. Nas sua próprias palavras: «Conseguimos uma grande paz através da força. A América é novamente respeitada como país. Com Biden não éramos respeitados. Todos o viam a cair pelas escadas abaixo todos os dias. Todos os dias, o tipo a cair pelas escadas abaixo. Então eu disse isto não é o nosso presidente. Não podemos aceitar isto. Eu sou muito cuidadoso. Sabem como é, quando desço as escadas para… como quando estou numas escadas como estas escadas, sou muito… ando muito devagar. Ninguém tem de bater record nenhum, basta fazer por não cair porque isso dá mau resultado. Alguns dos nossos presidentes caíram e isso tornou-se uma parte do leagdo que nos deixaram. Mas nós não queremos isso, é preciso andar bem e com cuidado. Não temos de bater record nenhum, temos de ter calma. Ter calma quando descemos, mas nada de… não descer as escadas a dançar. Isso, basta pensar no Obama, eu tinha zero respeito por ele como presidente, mas ele descia as escadas a dançar bebop aquelas escadas… Nunca vi uma coisa assim, da da da da da da da, bop, bop, bop, descia assim as escadas, sem se agarrar. Eu dizia, muito bem, eu não quero fazer isso. Estou convencido de que era capaz de o fazer, mas é sempre possível que as coisas corram mal e basta correr mal uma só vez.»
E é digno de se ver aquela solene audiência das mais altas patentes do país, generais, almirantes e sei lá que mais, todos a fitar assombrados o seu comandantes em chefe, o admirável Donald Trump.
Nunca lhes tinham falado nisso na Academia Militar.


Regresso a Gaza…. Regresso a casa…








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