nós, os engolidores de espadas

24 de fevereiro, dia mundial dos engolidores de espadas. Verdade. Está aqui o Borda d’Água que não me deixa mentir.
Não me deixa mentir, nem esquecer. É que se há data que se impõe celebrar é esta. Que é o que fazemos, nós, engolidores de espadas honorários. Nós, os que, recusando-se a admitir na nossa dieta de sobrevivência os sapos, a propaganda, as promessas, as verdades inquestionáveis e outras lérias que tantos teimam em querer fazer-nos engolir, dedicamos a nossa veneração a esta nobre arte alternativa.
Tempos houve em que para assinalar a efeméride contava com a cumplicidade complacente do sempre lembrado Manel Resende. Nenhum de nós sócio da Associação Internacional de Engolidores de Espadas (Sword Swallowers Association International), é certo, mas não menos, apesar disso, cumpridores zelosos do pequeno gesto anual de trazer para a memória de hoje todos os faquires, derviches, xamãs e outros engolidores que já muitos muitos anos antes de Cristo mostravam desse modo as boas graças de que gozavam junto lá dos seus deuses (e das suas entranhas, já agora). O nosso ritual não tinha nada de particularmente espetacular, e não metia espadas, nem sequer um canivete suíço – um email para cá, um telefonema para lá e uma piada a condizer, o menos cortante possível, ça va de soi. Agora que o Manel já por cá não anda, sirva-nos este postal como cerimonial de substituição. E partilhe-o quem achar que o caso o merece, certos de que ninguém lhes imporá nenhuma prova de admissão, digo isto porque que já via aí muita hesitação. Compreeendo a reticência, eu que as façanhas mais parecidas de que me posso gabar são as várias endoscopias que tive de fazer até hoje. E, essas, sob anestesia.
O meu título de engolidor de espadas é apenas honorário, já disse. Mas tem-me valido poder jejuar dos muitos sapos que vejo outros aí à volta a ter de engolir. Espero que com proveito, ao menos.

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