

Todos os dias, a todo o momento, nos chegam imagens de todo o lado. Muitas vezes dramáticas. Escolhidas para chamar a nossa atenção. Quanto mais próximas de nós, mais elas nos interpelam, nos questionam. Somos assim feitos. Como se costuma dizer: longe da vista…
Estas fotos (publicadas pela agência Lusa) são de uma manifestação a exigir um plano para pôr fim à utilização de combustíveis fósseis. A notícia falava de cerca de 50 manifestantes. Mais eram os polícias. E cinco carrinhas anti-motim, vários carros, motas, polícia de choque, PSP, GOE, UEP, polícias à paisana que revistavam manifestantes, barreiras a impedir o acesso à rua do Ministério do Ambiente. Um aparato bélico que contrastava flagrantemente com o ar desarmado dos ativistas. O rapaz da foto está longe de passar por um perigoso terrorista capaz de pôr em causa o nosso santo sossego.
Vemos isto e (alguns de nós, às vezes) questionámo-nos: que temos nós a ver com isto? Tudo é feito em nosso nome, para proteger a nossa tranquilidade e a nossa segurança. Alguns dirão: a polícia tem de estar preparada para o pior, o que parece desproporcionado é apenas a maneira de garantir que estarão preparados para esse pior. Outros dirão: a polícia tem informações e sabe qual “o pior” que os espera em qualquer caso. Este rapaz da foto será esse “pior”? Há quem diga: é o preço a pagar. E estamos dispostos a pagar esse preço. A única coisa que pedimos é que o façam longe da nossa vista, em silêncio se possível, pela calada, sem imagens, as imagens perturbam-nos.
Já ninguém fala das razões que levaram a sair para a rua estes miúdos (foi assim que o jornalista da SIC falou deles). “Em abstrato” quase toda a gente concorda com eles. Pelo menos até eles falarem “em concreto”, em mudanças que hão de mexer com a nossa tranquilidade, a nossa segurança, a nossa indiferença. Mas também porque no fundo custa-nos ver estas imagens. O rapaz que os polícias derrubam e algemam não nos parece muito ameaçador. Não parece violento. Não traz armas, não se propõe pôr em causa o nosso sossego. Só a nossa indiferença. É menor de idade. Sei isso porque é o meu filho.
Estes meninos , pois para nós serão sempre meninos, tiveram o” azar” de serem formados a lutar por aquilo que acreditam, e apesar de todo o sofrimento que isso implica , sonham que ainda é possível mudar o mundo e fazer dele um lugar melhor. Obrigada pela coragem. E eu que tenho Fé , peço a Deus a coragem e força para os continuar a ajudar, acolher no regresso de cada saída à rua.
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