Há dias a notícia no telejornal era sobre um novo tipo de tanque que ia ser enviado para a Ucrânia. Esmeraram-se, e havia no estúdio uma maqueta ou lá o que era, à escala, do tal tanque. E o jornalista ou apresentador de serviço gabava a peça: o seu poder mortífero, as capacidades, as habilidades, os etcs que os catálogos dos traficantes de armas usam para as impingirem aos clientes. Tentador. Se não fosse o preço, quem resistiria a comprar um nem que fosse para pôr no quintal para impressionar e atemorizar os vizinhos?
Já dias antes, quando a notícia era um ataque das tropas ucranianas que tinha feito não sei quantas vítimas russas, os jornais discutiam os números fornecidos. Que deviam ser mais, que não menos, achavam. Na guerra mente-se e compete aos jornalistas independentes repor a verdade no sítio, devem estar eles a pensar. E vai cada um de matar mais uns quantos. O apoio à Ucrânia também dá nisto: querer-se que matem mais. Pessoas. Está bom de ver que não é para matar coelhos ou lebres que se mandam tanques para um lado e outro.
E nós? Mesmo sem saber quem será este nós, coçamos a cabeça, sem saber o que dizer ou fazer. Terá algum significado a vida (antes a morte) dos que desaparecem com a notícia? Podemos viver ao lado desta disputa de saber quem mata mais?
Ao mesmo tempo (quase) esboçou-se nos jornais uma polémica sobre a letra do hino. Há quem ache deslocado, despropositado, anacrónico o veemente apelo às armas do hino nacional. Que começou por marchar contra os bretões (ao que li algures) e quando os bretões passaram a ter, também eles, Deus do lado deles, passou a ser “contra os canhões” sem identificação de origem. E agora?